Assunto cercado de tabus, o consumo excessivo de álcool na velhice é um problema de saúde e social pouco abordado nas políticas públicas, hoje direcionadas aos consumidores mais jovens.

Pesquisa Datafolha inédita mostra que quase um em cada dez homens idosos brasileiros (9%) bebe todos os dias, cinco vezes a média do país (2%) e o dobro do percentual de beberrões (4%).

Entre as idosas, 81% não bebem, contra 57% dos idosos, o que confirma a tendência na população em geral de as mulheres serem menos expostas ao álcool que os homens (63% delas não bebem, contra 6% dos homens).

O alcoolismo causa um grande impacto nos sistemas nervoso, cardiovascular, circulatório e gastrointestinal.

Se a bebida for associada ao uso de cigarros ou calmantes, situação frequente entre os idosos, o estrago é ainda maior porque somam-se efeitos deletérios, segundo a psiquiatra Ana Cecília Marques, professora da Unifesp.

“Há degenerações do sistema nervoso central, como as demências, danos ao sistema cardiovascular, como hipertensão arterial e os AVCs. No sistema gastrointestinal, podem surgir cânceres e hepatites com cirrose hepática. Ainda são comuns casos de diabetes alcoólica e de infecção causadas por queda do sistema imunológico.”

“Aquele que bebe desde cedo tem problemas de saúde antes, já com 40 ou 50 anos. O que começa a beber mais tarde é, em geral, solitário. Ele não busca ajuda, o álcool acaba sendo uma automedicação.”

O uso do álcool também pode desencadear ou potencializar distúrbios psiquiátricos, como a depressão, muito associada aos suicídios entre os idosos. “O álcool sozinho já aumenta a taxa de suicídio. E os calmantes também. Eles dão uma falsa sensação de alívio da angústia e a pessoa vai perdendo o controle da situação.”

Fonte: Folha