Um estudo conduzido por pesquisadores do campus de Ribeirão Preto da USP revelou que a intervenção breve, uma estratégia terapêutica canadense da década de 1970, pode ser altamente eficaz na promoção de mudanças de comportamento relacionadas ao consumo de álcool em pessoas idosas.

 

A pesquisa, liderada pelo enfermeiro Deivson Wendell da Costa Lima durante seu doutorado na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP), foi realizada em parceria com agentes comunitários de saúde em visitas domiciliares na rede pública de Ribeirão Preto, São Paulo.

 

A abordagem terapêutica, conhecida por estimular a autonomia e responsabilidade do indivíduo em relação às suas escolhas, foi inicialmente proposta pela equipe canadense liderada por Martha Sanchez-Craig em 1972. 

 

O estudo de Lima aplicou essa técnica em idosos acima de 60 anos assistidos pela Atenção Primária à Saúde da cidade, observando uma redução de até quatro vezes no consumo de álcool nessa população.

 

A pesquisa envolveu 564 pessoas, predominantemente homens, selecionadas a partir de mais de 3 mil idosos cadastrados na área de abrangência das unidades de Saúde da Família do distrito oeste de Ribeirão Preto. 

 

Durante as visitas domiciliares, os pesquisadores utilizaram o questionário Audit (Teste de Identificação de Transtornos por Uso de Álcool), desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para analisar o padrão de consumo de álcool.

 

Os participantes foram divididos em dois grupos: controle, que recebeu um folheto informativo, e intervenção, que além do folheto, passou pela aplicação da metodologia de intervenção breve. 

 

O estudo mostrou uma redução significativa no consumo de álcool no grupo de intervenção em comparação com o grupo controle.

 

A intervenção breve, baseada nas recomendações da OMS, incluiu triagem, técnicas de entrevista motivacional, definição de metas de redução e acompanhamento. 

 

A aplicação foi realizada de forma presencial durante visitas domiciliares, acompanhadas por agentes comunitários de saúde, em uma única sessão com duração média de 30 minutos. Ao final, os idosos receberam um relatório do protocolo preenchido e folhetos informativos.

 

Os resultados indicam que a metodologia não apenas reduziu significativamente o consumo geral de álcool, seja semanal ou mensal, mas também impactou os comportamentos de consumo em uma mesma ocasião. O enfermeiro Lima destaca a importância da empatia na abordagem, ressaltando que o sucesso da intervenção depende da confiança e compreensão entre o profissional de saúde e o paciente.

 

Diante do impacto positivo observado, Lima sugere a adoção do protocolo como uma ferramenta na atenção primária à saúde e na formulação de políticas públicas, enfatizando seu potencial auxílio no cuidado aos idosos com problemas relacionados ao álcool. 

 

Dados do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa) reforçam a relevância da pesquisa, destacando que em 2021 houve mais de 336.407 internações e cerca de 69.054 óbitos relacionados ao consumo problemático de álcool, com um terço desses indivíduos acima de 55 anos.

A pesquisa de Lima, parte de sua tese de doutorado, intitulada “Efetividade da intervenção breve para redução do consumo de risco de álcool em idosos na Atenção Primária à Saúde”, sugere uma abordagem promissora para enfrentar esse desafio de saúde pública.

 

👉 Para saber mais assuntos de interesse da pessoa idosa, siga-nos no Facebook e Instagram: @abracs_

Fonte: https://jornal.usp.br/